Jean Giono (1895 – 1970) nasceu, viveu e morreu em Manosque, na Provença. Só a Grande Guerra, as ocasionais idas a Marselha e três breves viagens para fora de França o afastariam da sua terra. Para muitos, era um “viajante imóvel”.
A sua experiência na Primeira Guerra Mundial, onde viu morrer o seu melhor amigo e inúmeros camaradas, torná-lo-ia um pacifista até ao fim da vida. O seu amor à terra inspira a sua visão panteísta. Há no encontro do Homem e da Natureza uma libertação pagã – é essa a espiritualidade de Giono. Opõe-se, por isso, ao mundo moderno e à sua loucura mecânica.
Durante a Segunda Guerra Mundial, mantém-se fiel ao seu pacifismo. Vê em Vichy a paz necessária e continua a sua vida pacata, dedicando-se à escrita, sendo a sua obra bastante apreciada. A seguir, durante o período da persecutória depuração feita durante a chamada “Libertação” da França, Giono é um dos nomes que constam na lista negra feita pelo Comité Nacional de Escritores, um órgão dominado pelos comunistas, ao lado de escritores “colaboracionistas” como Pierre Drieu la Rochelle, Louis-Ferdinand Céline, Alphonse de Châteaubriant, Charles Maurras ou Henri de Montherlant. Só nos anos 50 do século XX, a sua obra e o seu talento seriam de novo reconhecidos.
É deste período uma das suas obras incontornáveis, “O Homem que Plantava Árvores”, um pequeno livro inspirador que mostra como a determinação e a simplicidade podem provocar alterações profundas no meio que nos rodeia. Escrito em 1953, conta a história de Elzéard Bouffier, um homem solitário que decide dedicar toda a sua vida a fazer nascer, pacientemente, toda uma floresta numa região antes árida e inóspita. Esta atitude demonstra verdadeiramente o carácter de um homem. Como afirma Giono: “Para que o carácter de um ser humano revele qualidades verdadeiramente excepcionais, é preciso ter a sorte de poder observar os seus actos durante muitos anos. Se esses actos forem desprovidos de todo o egoísmo, se o ideal que os conduz resulta de uma generosidade sem par, se for absolutamente certo que não procuram recompensa alguma e se, além disso, ainda deixam no mundo marcas visíveis, estamos então, sem sombra de dúvida, perante um carácter inesquecível.” Será esta uma história verdadeira? A questão foi colocada por muitos e para alguns era inspirada numa pessoa real, ou até na vida do próprio autor. Giono via nessa dúvida um reconhecimento e, de facto, esta sua pequena mas grande obra inspirou muitos plantadores de árvores reais.
No mundo de hoje, cada vez mais urbanizado, uniformizado, descaracterizado e, consequentemente, mais desenraizado, impõe-se (re)ler este livro. Que a sua simplicidade tocante sirva para (re)encontrarmos a necessária ligação entre o homem e a terra.