Recentes análises dendrocronológicas às pranchas de carvalho do Báltico, nos quais a obra foi pintada projectam a sua execução para os primeiros anos da segunda metade do século XV, considerando a antiguidade das placas, o tempo de transporte e secagem. Apesar das muitas «certezas» na autoria da pintura e no seu significado, o tema tem apaixonado inúmeros historiadores e historiadores de arte que têm construído teses díspares que, de uma forma geral, se agregam essencialmente em três:
- Tese vicentista, com maior aceitação académica, que pressupõe que a obra completa seria um grande retábulo, dedicado a São Vicente, que incluiria os actuais 6 painéis, mais os 2 suplícios, os 4 santos, e vários outros painéis que se supõem desaparecidos. A mais recente datação veio abalar seriamente esta hipótese.
- Tese fernandista, formulada por Jorge Filipe de Almeida, afirma que o políptico de 6 painéis não é coevo dos grupos dos suplícios e dos santos mas leva escrita a data de 1445. Face aos resultados da datação, a tese está no limite do possível mas não do plausível.
- Tese algo pedrista, de cunho borgonhês, desenvolvida por António Salvador Marques em Paineis.org. Por ser menos divulgada, decidimos trazê-la ao conhecimento dos leitores, propondo a sua abordagem inicial pelo tema das questões relacionadas com a atribuição da autoria da obra.
António Salvador Marques é um homem de fortes convicções que, de há muito, se tem dedicado ao estudo da problemática do Políptico encontrado na sacristia do Paço Patriarcal de São Vicente de Fora, em 1882, e hoje exposto no MNAA, nas Janelas Verdes. É sua opinião que «a ideia de que a Europa medieval deve ser estudada e entendida através das aproximações que catalogam o comércio, as condições económicas, as movimentações sociais ou os confrontos políticos, e procuram novas vias de investigação nos balanços exaustivos de todas as possíveis documentações em arquivos obscuros, é imprescindível. Mas existe o risco de a tornar exclusiva, forçando um historicismo quantitativo que perde de vista a importância da acção individual no drama permanentemente renovado de cada existência humana. O que pretendemos dizer é que são os dados de natureza cultural e psicológica que nos devem servir para compreender as acções e comportamentos individuais, muito mais que as generalizações sociológicas ou economicistas.»